Depois de muitos anos aqui estou de volta, mas parece que estou em outro lugar. Independente do horário, o silêncio reina. Eu gosto do silêncio, mas também gostava de ver esse lugar cheio. Lembro-me que nessa mesma época em um pequeno espaço tinha duas mesinhas, cada uma com uma caixa preta, era o tal do computador. Ninguém ali ligava. Será essa a caixa, em novos formatos, que afastou a garotada daqui? Acho que sim. Mas será que se esqueceram do fascínio insubstituível que esse lugar trás? Acho que sim.
Enquanto isso, vago em meio as prateleiras, cheiros se misturam, a maioria era de livro velho e poeira. Cada um com a sua história, não somente aquela escrita pelo autor, mas também aquela história que ele adquiriu ao passar de mão em mão. Cada um que pegou aqueles livros ganhou um pouco deles para si e ao devolve-los deixou neles também um pouco de si. Tantos sonhos e desejos envolvidos, compartilhados em pequenos pedaços de papel. Sinto-me mais pequena ainda em meio a grandiosidade simbólica que cada um daqueles livros possuí naquelas páginas.
Uma vida inteira não seria suficiente para ler todos eles, ou simplesmente saber o que cada um esconde em suas trajetórias. Os livros são misteriosos, não acha? Mas essa nova geração, por sua maioria, parece não se importar tanto assim em desvenda-los. Espero estar enganada, mas o esquecimento desses livros me dói a alma. A cena de uma biblioteca pública, ao lado de uma escola pública, em uma avenida movimentada, vazia e esquecida, me dói. Perdeu-se com o passar dos anos o valor que esse paraíso tem. Não, não pode perder mais. Queremos ver nossas crianças empenhadas nas aventuras que os livros podem nos proporcionar. A leitura não só por obrigação, mas por prazer. A algazarra pelos corredores, porque ali também é lugar de diversão. Para que a biblioteca não seja apenas o cemitério dos livros que foram esquecidos.
Porque existem muitos cemitérios, de muitos livros esquecidos.
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