domingo, 29 de março de 2015

A visão do óculos {uma crônica}


Lá estava na vitrine de uma sofisticada ótica o mais novo e descolado modelo de armação de óculos, era de dar inveja a todos os outros antigos que ali estavam. Há poucas horas exposto já era muito notado por todas as pessoas que ali entravam. Ele não entendia o porquê de tanta admiração, no entanto, na hora da compra outros eram escolhidos. O preço daquela armação era alto, geralmente as pessoas dão preferência pelos de menor preço.

Passados alguns dias, a armação já estava desiludida que encontraria alguém que a levasse para se aventurar mundo a fora. Até que em uma tarde ensolarada, uma mulher culta e vaidosa se encantou e a levou. O óculos tinha encaixe perfeito em seu rosto fino e delicado. Só o incomodava um pouco a quantidade de maquiagem que deslizava constantemente sobre a armação. Sendo levada para casa, a armação viu a quão luxuosa era a vida daquela mulher.

Muitas coisas belas refletiam sobre aquelas lentes. Mas ao saírem pelas ruas, outra coisa começou a incomodar, cada vez que ela passava em frente a alguma pessoa conhecida, empinava seu nariz para cima, ele ficava na diagonal, era desconfortável, mas era melhor do que ficar parado sob a prateleira, enquanto ele via os outros sendo levados.

Os dias do óculos eram sempre iguais, suportando muita maquiagem, desconfortável sobre o nariz empinado e muito luxo ao redor, naquele momento seu mundo era todo preto e branco. Não estava sendo tão incrível quanto imaginava e ela deveria estar pensando o mesmo, já que, dias depois o jogou no lixo.

Agora aquele óculos estava amedrontado em um saco escuro, fundo em meio a outras coisas que teriam sido julgadas como imprestáveis. Dias se passaram naquele sufoco, até que numa bela manhã ele sente alguém revirando o lixo à procura de algo. Então uma mão pequena, porém, grossa o tira dali.

Tratava-se de uma garotinha que o colocou em frente ao espelho e comemorou pelos objetos encontrados. Estranhamente, a partir daquele momento o mundo do óculos começou a ser colorido. Passou a enxergar as coisas de uma maneira mais generosa e positiva. Enquanto não servia mais para uma, era um grande presente à outra.

Aquela garotinha era muito pobre, vivia em meio a pessoas humildes que tinham apenas o suficiente para sobreviver, e olhe lá. Mas seus pequenos olhos transpareciam tanta esperança, tinham um brilho único que era encantador. Embora fosse uma armação enorme, ele se sentia muito confortável. Quando passavam perto de pessoas conhecidas era muito agradável a sensação do sorriso que se formava no rosto da pequena.

O óculos começou a perceber que os olhares para a mesma situação poderiam ter diferentes interpretações. E ele concluiu que de fato a beleza esta nos olhos de quem vê. O mesmo acontecimento pode ser visto de maneira positiva por alguns e negativo por outros. Por fim, o óculos descobriu que a felicidade é encontrada dentro da gente, não nas coisas exteriores e foi muito feliz por esse novo aprendizado , agora sentia que vivia a cada dia uma nova aventura.

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