Hoje dia 08 de janeiro desse novo ano de 2016, comemora-se o dia do Fotógrafo nacionalmente. Quero encarecidamente parabenizar todos esses profissionais que fazem essa maravilhosa arte! Sabemos que muita das vezes esses profissionais estão na luta por um único motivo: amor pela arte. Arte, pois fotografar é uma arte.
Como seria o mundo sem lembranças de momentos incríveis e únicos em nossas vidas se não pudéssemos mostrar? Esses momentos nunca vão voltar, então a melhor forma de eterniza-los é registrando através da arte fotográfica. Com isso podemos reviver esses momentos, lembrar como foram as coisas, mostrar aos familiares e amigos... Reviver um pouco da vida que passou correndo e nem percebemos. Essa sensação nos dá principalmente quando vemos fotos de quando éramos crianças, por exemplo, quanta coisa mudou não é mesmo? Algumas fotos nos roubam sensações inexplicáveis, lágrimas, seja por saudade, tristeza ou mesmo de tanto dar risada!! Hahahaha. Nada melhor do que ver a família reunida falando quanto aquele primo era feinho e orelhudo... Ou o quanto que você engordou de lá pra cá. É um barato.
Uns utilizam dessa prática como profissão, outros como hobby... cada um com suas técnicas e preferencias, mas todooos envolvidos por essa apaixonante arte de maneira muito intensa e fiel.
Não vou ficar aqui falando da origem dessa data, da história da fotografia e bla-bla-blá...
Só quero dedicar esse espacinho para dizer duas coisas mais: FOTOGRAFE BASTANTEEEEE... E NÃO ESQUEÇA DE REVELAR SUAS FOTOS PREFERIDAS!!
As vezes acabamos tendo problemas com aparelhos, hd´s, pendrive, etc. e perdemos as fotos que tanto amamos, então recomendo que no mínimo as salve na nuvem: GoogleDrive, por exemplo... para não correr esse risco. E claro, se puder, preserve esse hábito de revelar, eu adoro fotos em papel, assim como os tradicionais livros em papel, e-books e essas novas tecnologias são muito úteis mas ainda opto algumas vezes pelo bom e velho modo de se fazer hahaha!
São Bernardo é tido como um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro. Graciliano Ramos teve grande preocupação com a questão social na obra. Através do livro, o autor denuncia o processo de desumanização do ser humano dentro do sistema capitalista, mostrando que essa realidade prejudica tanto o explorado quando o explorador.
O personagem principal representa a imagem do homem capitalista. Tudo na vida dele é prático, lógico e exato. Madalena, sua esposa, mostra o lado humanista do ser humano. No entanto, Paulo Honório perdeu a única chance de ser uma pessoa do bem através do relacionamento com a professora. No final, o mesmo fica sozinho e infeliz.
A coruja é uma metáfora que representa a morte e a sabedoria. O objetivo da aparição desse animal é mostrar que Honório deveria aprender com determinadas situações. O livro nos revela um processo de tomada de consciência do personagem principal, que no final do livro percebe todo mal causado aos outros e a si mesmo.
A linguagem utilizada é extremamente enxuta e direta, o que, além de ser típica do estilo do próprio Graciliano Ramos, combina com Paulo Honório. No entanto, o texto é muito bem escrito, o que pode ter sido um equívoco do autor, já que, Paulo Honório era um homem quase analfabeto.
Personagens de São Bernardo:
Paulo Honório: É um capitalista, passando de trabalhador braçal a proprietário. Para realizar esta travessia, foi necessária a sua desumanização através da qual pôde exercer o domínio sobre os outros matando, roubando, mentindo, trapaceando.
Madalena: Professora loura e de olhos azuis, que se recusa a ser objeto de posse de Paulo Honório. Preocupada com as condições de vida dos trabalhadores, incapaz de ser esposa submissa, sente necessidade de trabalhar e de andar pela fazenda, o que a leva a rejeitar o mundo de Paulo Honório.
Salustiano Padilha: Ex-dono da fazenda São Bernardo e pai de Luís Padilha.
Luís Padilha: Após a morte do pai herdou a fazenda, mas se entregou à bebida, jogos e às mulheres. Vítima dos planos de Paulo Honório, vê-se endividado e é obrigado a vender a fazenda.
Marciano: Velho e doente, marido de Rosa, a mulher com quem Paulo Honório tinha encontros amorosos escondidos.
Padre Silvestre: Impossibilitado de admitir coisas contraditórias, lê apenas as folhas da oposição, anda no mundo da lua, segundo Paulo Honório.
João Nogueira: Advogado que o auxiliou nas falcatruas.
Azevedo Gondim: Jornalista moderado e radical. Havia sido encarregado de escrever as histórias do narrador, mas por utilizar uma linguagem mais erudita, desentende-se com Paulo Honório.
Seu Ribeiro: Senhor que trabalha na fazenda. Fica próximo de Madalena.
Casimiro Lopes:Amigo antigo de Paulo Honório, executa as ordens dele sem remediar.
Negra Margarida:Doceira que cuidou de Paulo Honório durante a infância.
D. Glória: Tia de Madalena, mudou-se para a fazenda de São Bernardo quando a sobrinha casou-se, após a morte de Madalena, muda-se para a cidade.
Dr. Magalhães: Juiz amigo de Paulo Honório.
A obra ganhou adaptação em um filme, você pode conferir aqui também:
RESUMINDO A OBRA "SÃO BERNARDO"
Paulo Honório, a princípio teve a ideia de contar sua história num romance, com a ajuda de alguns amigos, que depois de desentendimentos sobrou-lhe apenas um, Azevedo Godim, periodista que após 15 dias de trabalho com Paulo, apresentou - lhe alguns capítulos datilografados que para Paulo estavam uma porcaria. Paulo abandona a empresa e percebe que foi bom não contar com a ajuda de seus amigos, afinal teria coisas da vida dele que não teria coragem de contar a ninguém, por isso a obra seria publicada com um pseudônimo. Começou então a escrever, contando que se chama Paulo Honório, dando seu peso e sua idade, não sabendo com certeza, afinal, não tinha o nome de seu pai nem de sua mãe em sua certidão. Conta que vagava à toa até a maioridade. Passou três anos e nove meses na cadeia após esfaquear João Fagundes, por ciúmes de Germana. Na cadeia aprendeu a ler com Joaquim, que logo depois morreu. Quando saiu da cadeia, só pensava em ganhar dinheiro. Viajou pelo sertão fazendo negócios, passou sede e fome, arrumando brigas e se metendo em furadas, como a do Dr. Sampaio que, comprou-lhe uma boiada e ao final não queria pagar, mas Paulo logo depois o pegou e o fez pagar o que devia. Paulo resolve ficar em Viçosa Alagoas, pretendendo comprar a propriedade São Bernardo, onde trabalhou. O antigo dono Salustiano Padilha que havia morrido e deixado a propriedade para seu filho Luís Padilha. Paulo por interesse começa amizade com Padilha que vivia bêbado, gastando dinheiro em jogos, bebidas e mulheres. Ao encontrar a propriedade caindo aos pedaços, Paulo sugere a Padilha a cultivação de São Bernardo, que depois de um tempo Padilha ganha interesse e começa a investir em plantação de mandioca. Após não ter dado certo Padilha lhe oferece a hipoteca de São Bernardo. Depois de brigas e desentendimentos, Paulo compra a propriedade por sete contos quinhentos e cinquenta mil-réis. Paulo Honório narra sua história rememorando os principais fatos ocorridos em seus cinquenta anos de vida pelo nordeste. Criou-se sem conhecer pai ou mãe, e nem a data em que nasceu. Da infância guarda lembranças da velha Margarida e de um cego que lhe puxava as orelhas. Trabalhou até os 18 anos quando foi preso, por esfaquear João Fagundes, porque ousou passar a mão em Germana, sua namorada. Mendonça avisa a Paulo que, ele não devia ter feito esse negócio, sobre os limites da propriedade e que derrubaria a cerca. Paulo tenta fazer negócio com Mendonça com credos, madeiras, e limusino a qual ele recusa. Paulo, numa conversa com Casimiro Lopes percebe que deve tomar cuidado com os caminhos daquela propriedade. No segundo ano Paulo passou por dificuldades, a safra de algodão e mamona foram ruins. Em uma visita Paulo e Mendonça conversaram sobre tudo, conheceu suas duas filhas e falaram sobre a esposa falecida de Mendonça, que lhe questionou como a conhecia, e Paulo conta do tempo em que trabalhou em São Bernardo. Estava claro toda má intenção dos dois lados apesar de toda a conversa. No domingo da eleição enquanto Paulo estava na cidade, Mendonça leva um tiro na costela no meio da estrada perto de Bom-Sucesso e acabada morrendo. Após a morte de Mendonça, Paulo Honório conhece seu Ribeiro em Maceió, um homem aos setenta anos, alto, magro e velho e que só havia conhecido a sua felicidade na juventude. Honório ao gostar de Ribeiro o acolhe em São Bernardo, que rapidamente ganha a sua confiança. Se duas pessoas disputavam as terras, seu Ribeiro era o grande responsável por colocar panos quentes na situação. Seu Ribeiro era muito inteligente: relia jornais, conhecia leis antigas e se alguém não entendesse o significado ele explicava, contribuindo para a inteligência das pessoas. Quando alguém aparecia morto, ele procurava o assassino e o prendia. Os familiares da vítima ficavam sob os seus cuidados. Se uma jovem aparecesse rejeitada e chorando ele buscava o rapaz e o fazia casar com ela. Seu Ribeiro tinha autoridade por aquelas bandas, ninguém ousava contraria-lo. Enquanto isso, a esposa de seu Ribeiro se encarregava de contar histórias de santos para as crianças. Talvez nem tudo o que era dito era verdade, mas as crianças não se importavam. A casa de seu Ribeiro vivia cheia de gente, apesar de sua família ser pequena, sua colheita rendia muito e os moradores sempre davam preferência a ela. Com o passar do tempo, muita coisa mudou. Muitos morreram e muitos nasceram. Os afilhados do major foram servir ao exército. Aquele lugar cresceu e a popularidade do major foi diminuindo, até desaparecer. Com o fim de sua popularidade, a esposa de seu Ribeiro se entristeceu, perdeu peso e morreu. A mortalidade andava muito alta naquela região e para não ir à falência, Paulo Honório decide suspender a aguardente. Com a morte de Mendonça, Honório decide ampliar São Bernardo, e apesar de sua decisão não ser bem recebida por todos, ele continua e amplia suas terras. Tudo estava sob controle, mas quando faz quatro ou cinco casas, sua situação começa a mudar e perde dois de seus empregados e leva um tiro no ombro. Nessa época, Paulo recebe a visita do governador do Estado, que lhe sugere a construção de uma escola. João Nogueira sugere para Paulo Honório que contrate Madalena para dar aulas, já que a moça é professora. Durante o jantar, Azevedo Gondim conta a todos o real motivo de sua visita: encontraram Margarida. Ela mora em Jacaré dos Homens, na cidade de Pão de Açúcar. Luís Padilha pede à Azevedo Gondim que peça ajuda ao Padre Silvestre para buscar Margarida. Padre Silvestre falara há muito tempo em cortar a quantia de cento e cinquenta mil réis mensais que o município dava ao Cruzeiro. Paulo Honório escreve ao padre Silvestre agradecendo pelo seu interesse em trazer Margarida. Ela chegara dias antes e estava instalada numa casinha cercada de cachos de banana. Paulo Honório a encontra cheia de pecados. Ela pede a ele um tacho igual ao que ela tivera durante toda a vida. Um dia, Paulo Honório amanhece pensando em casar. Na verdade não se sentia atraído por nenhuma mulher. Precisava mesmo era preparar um herdeiro para São Bernardo. Pensou em Emília Mendonça, uma Gama, a irmã de Azevedo Gondim, Marcela, que era filha do Dr. Magalhães e juiz de direito. Não gostou de Marcela. Quando estava para procurar Dr. Magalhaes foi surpreendido por Costa Brito numa carta que vinha com a intenção de lhe avançar em duzentos mil réis. A Gazeta, que sempre foi motivo de orgulho para o governo chegou na oposição por um emprego de deputado estadual. Na sua última viagem à capital, o diretor da Gazeta lhe oferece cinquenta mil réis, indignado. Paulo devolve o dinheiro, pois não gosta de fazer negócios com a imprensa. Mas Brito insiste e lhe manda várias cartas, as primeiras com choro, as últimas com exigências. Uma delas trazia ameaças. Paulo recusa a oferta, agradecido. No dia seguinte, Paulo vai à casa de Magalhaes visitá-lo disposto a encontrar uma noiva. Encontrou o Dr. á noite e estava acompanhado com a filha e três visitantes. Estavam lá João Nogueira, uma senhora de preto e uma moça loura e bonita. Magalhaes era pequeno, tinha um nariz chamativo e por detrás do pince-nez olhos risonhos. Marcela sorria para uma das visitas, que sorria também, mostrando os dentes brancos. Não gostou de nenhuma das duas. Paulo gostou mesmo da moça loura. Naquele momento a jovem moça parecia ser interessante, diferente das que ele estava acostumado a jogar cantadas. Após se despedir, ele percorreu a cidade impressionado com a pequena e delicada moça, esperando que o acaso o fizesse saber o nome dela. O acaso não acontecendo ele resolveu procurar João Nogueira na redação do Cruzeiro, mas só encontrou Arquimedes. Foi informado que Nogueira poderia estar na casa de Ernestina. Por volta de meia noite encontrou o advogado no hotel. Ele estava com Gondim estudando poesia. Pediu licença a Gondim para falar com Nogueira, mas não teve coragem. Pensou que talvez o advogado também estivesse interessado na moça loura e tentando disfarçar pediu informações sobre o processo de Pereira. No capítulo 9 é introduzido um novo elemento n narrativa, uma jovem professora que se chama Madalena. Do capítulo 9 ao 15, vários assuntos são dispostos, misturados à entrada da personagem central feminina; até o capítulo 14, a ação se desenrola rapidamente, mas a partir desse momento, o narrador se concentra em Madalena e empenha-se em adquiri-la como mãe do herdeiro de São Bernardo. Aconteceu que, Brito após ter recebido uma negação por telegrama de duzentos mil-réis, publicou dois artigos furiosos sobre Paulo Honório, chamando-o de assassino e outras difamações. Querendo defender-se Paulo Honório foi até Brito, na Gazeta. Com um pouco de custo finalmente o encontrou e em resposta deu-lhe chicotadas. A polícia se envolveu na discussão e o levou para um interrogatório. Embarcou vinte e quatro horas depois, levando nos ouvidos um sermão do secretário. Na volta Paulo Honório encontrou a mesma senhora de preto que tinha visto no salão do Dr. Magalhaes, a D. Glória. Durante a viagem conversaram e se tornaram amigos. Até que chegaram no assunto da moça loura, que era sobrinha de D. Glória e professora, se chamava Madalena. Então Paulo Honório se lembrou que, o Nogueira e o Gondim falavam nela. Paulo Honório comentou que havia criado uma escola em S. Bernardo, e entregou-a ao Padilha. Esperto já pensou na possibilidade de substituir Padilha por Madalena. Na estação estava Madalena esperando por D. Glória, que a apresentou ao Paulo Honório. Pois até então ele só a conhecia de vista e por nome. No caminho seguiram juntos e ele propôs um convite delas irem conhecer S. Bernardo. Inicialmente viram como um convite inconveniente, mas depois adquiriram mais intimidade. Chegando no hotel, João Nogueira, Azevedo Gondim e padre Silvestre comentaram sobre as notícias do que haveria acontecido com o Brito, de que ele estaria no hospital ou até mesmo morrido. Paulo Honório esclareceu que haviam apenas discutido. Após isso, Individualmente Paulo Honório tirou suas dúvidas a respeito da índole e família de Madalena com o Dr. Magalhaes, e o deixou encarregado de sonda-la. Queria ter certeza de que ela merecia ocupar tal lugar em S. Bernardo, e também tinha seus interesses pessoais, que se evidenciam. Depois do convite e ao adquirir pouco mais de intimidade, Paulo Honório questiona D. Glória do por que sua sobrinha não se casa. Percebendo que sua proposta tinha pouca possibilidade, ele decidiu ir direto ao ponto com a moça, propondo a ela que fosse sua companheira. Uma semana depois, Azevedo Gondim cometeu uma imprudência felicitando-os pelo casamento, isso porque todos já estavam sabendo. Após conversarem, se entenderam e Madalena aceitou casar-se com Paulo Honório, sua tia D. Glória chorou de emoção. Padre Silvestre os casou, na capela de S. Bernardo, no altar de S. Pedro. Alegremente Madalena queria começar uma nova vida. Com o tempo, Paulo Honório começou a fazer descobertas que o surpreendeu. Uma semana não era o suficiente para conhece-la tão bem. Madalena entendia de escrituração, dentre outras coisas, tem opinião própria e forte, o que com o tempo desagrada cada vez mais seu marido. Madalena revelou-se pouco a pouco. Se me escapa o retrato de minha mulher, para que serve essa narrativa? De nada, mas sou forçado a escrever. Sento na mesa da sala, bebo café e acendo o cachimbo, enquanto ouço os grilos cantar. Ás vezes ideias não vem, ou vem em demasia, releio algumas linhas que me desagradam, não vale a pena tentar corrigir. Afasto o papel. Emoções, inquietações e desejos vem repentinamente e me agitam, me inquietam, vontade de tagarelar outra vez com Madalena, como sempre fazíamos nesse horário. Não é saudade, é desespero, raiva, peso no coração. Impossível recordar o que dizíamos, eram apenas palavras, e as dela tinham algo que não consigo exprimir. Eu apagava as luzes para sentir melhor. A figura de Casimiro Lopes aparece na janela, os sapos gritam, o vento sacode as árvores. Maria das Dores quer abrir o comutador, eu a impeço, não quero luz. - Madalena... A voz de Madalena continua a me acariciar. Que diz ela? Me pede que mande algum dinheiro a Mestre Caetano. Isso me irrita, é uma irritação diferente das outras, que me deixa calmo. Agora seu Ribeiro conversa com d. Glória no salão. Esqueço que eles me deixaram e que esta casa está quase deserta. - Casimiro! Penso que chamei Casimiro Lopes. A cabeça dele, com o chapéu de couro de sertanejo, assoma de quando em quando à janela, mas ignoro se a visão que me dá é atual ou remota. Agitam-me sentimentos inconciliáveis: encolerizo-me e enterneço-me; bato e tenho vontade de chorar. Aparentemente estou sossegado: as mãos continuam cruzadas sobre a toalha e os dedos parecem de pedra. Entretanto ameaço Madalena com o punho. Esquisito. Maria das Dores, na cozinha, dá lições ao papagaio. Tubarão rosna no jardim. O gado muge no estábulo. A palestra de seu Ribeiro e D. Glória é bastante clara. A dificuldade seria reproduzir o que eles dizem. É preciso admitir que estão conversando sem palavras. Se eu convencesse Madalena de que ela não tem razão... Se lhe explicasse que é necessário vivermos em paz... Não me entende. Não nos entendemos. O que vai acontecer será muito diferente do que esperamos. Absurdo. Como declarei, Madalena possuía um excelente coração. Manifestações de ternura que me sensibilizaram. Percebi depois que eram apenas vestígios da bondade que havia nela para todos os viventes. Eu não deveria esperar nem esses sobejos, e o que viesse era lucro. Vivemos algum tempo muito bem. Pela manhã Madalena trabalha no escritório, mas à tarde saía para passear, percorria a casa dos moradores. Garotos empalamados e beiçudos agarravam-se às saias dela. D. Glória gostava de conversar com seu Ribeiro. Eram conversas intermináveis, em dois tons: ele falava alto e olhava de frente, ela cochilava e olhava para os lados. Quando me via calava-se. Ora, as horas de folga de d. Glória eram quase todas. Seu Ribeiro tratava como excelentíssima senhora (Madalena era apenas excelentíssima). Julguei perceber, por certas palavras, gestos e silêncios, que ela ia ali deplorar a sorte da sobrinha. Estava sempre ao pé da carteira, amolando. Madalena batia no teclado da máquina. Seu Ribeiro escrevia com lentidão trêmula, se aperreava procurando seus objetos, porque D. Glória tinha o mau costume de mexer nos objetos e não os pôr no lugar. Madalena estava prenhe, e eu pegava nela como em louça fina. Paulo, tratou D. Glória de forma bruta, Madalena discordou de sua atitude e defendeu D. Glória: - Não conheço ninguém que trabalhe mais que D. Glória. - Ora essa! Bradei com espanto que me levantou do sofá - Vai sair? Pensando bem, creio que não foi o espanto que me levantou. Provavelmente foi o costume que eu tinha de me dirigir ao campo todas as manhãs. É verdade que o meu espírito estava completamente afastado da lavoura, mas D. Glória e Madalena já me haviam retardado quase uma hora, e o movimento que fiz correspondia a uma necessidade que se tornou clara quando me pus em pé. - Vamos? Madalena acompanhou-me e em caminho falou desta forma: - Você pelo que me disse principiou a vida muito pobre. - Sei lá quando principiei, quando dei por mim, era guia de cego. Depois vendi as cocadas da velha Margarida. - Lutou muito. Mas acredite que D. Glória tem desenvolvido mais atividade que você. - Estou esperando. Que fez ela? - Tomou conta de mim, sustentou-me e educou-me. - Só? - Acha pouco? É porque você não sabe o esforço que isso custou. Maior que o seu para obter S. Bernardo. E o que é certo é que D. Glória não me troca por S. Bernardo. Vaidade. Professorinhas de primeiras letras a escola normal fabricava às dúzias. Uma propriedade como S. Bernardo era diferente. Era domingo de tarde, e eu voltava do descaroçador da serraria, onde tinha estado a arengar com o maquinista. Provavelmente D. Glória ria sempre com segredinhos ao ouvido de seu Ribeiro. E Madalena escutando o Padilha. O Padilha, que tinha uma alma baixa, na opinião dela. Para o inferno. Tão bom era um com o outro. Entretidos, animados. Conspiração. Talvez não fosse nada. Mas para quem, como eu, andava com a pulga atrás da orelha! Aborrecia. Estavam constrangidos, certamente adivinhando o que eu pensava. Padilha mastigava com os dentes estragados, o sorriso servil. O rancho de Margarida escondia-se entre as folhas das bananeiras. Marciano saiu do estábulo, e veio vindo, banzeiro, derreando-se; diante da casa-grande tirou o chapéu e escondeu o cigarro. A pedreira, lá em cima, estava quase invisível depois que o caminho para ela se tinha fechado. A prefeitura não queria mais comprar pedras, as construções na fazenda estavam terminadas. E mestre Caetano, gemendo no catre, recebia todas as semanas um dinheirão de Madalena. Si senhor, uma panqueca. Visitas, remédios de farmácia, galinhas. Além de tudo vestido de seda para a Rosa, sapatos e lençóis para Margarida. Sem me consultar. Já viram descaramento assim? Um abuso, um roubo, positivamente um roubo. Madalena falava com Padilha, mas não ouvi o que diziam. Casimiro Lopes, ia-me esquecendo-se dele, fiel, pau para toda a obra, era a única pessoa que me compreendia. Fazia dois anos que eu estava casado, e por isso João Nogueira, padre Silvestre e Azevedo Gondim jantavam conosco. Exatamente nesse dia, repreendi Padilha e ele me gaguejou umas desculpas a que não dei importância, mas que depois de algumas horas cresceram muito. Padre Silveiro estirou o beiço inferior e amoitou-se. As opiniões dele são as opiniões dos jornais. Como, porém, essas opiniões variam, padre Silveiro, impossibilitado de admitir coisas contraditórias, lê apenas as folhas da oposição. Acredita nelas. Mas experimenta ás vezes dúvidas. Elas juram que os homens do governo são malandros, e ele conhece alguns respeitáveis. Isso prejudica as convicções que a letra impressa lhe dá. Necessitando acomodar suas observações com as afirmações alheias, acha que os políticos, individualmente, são criaturas como as outras, mas em conjunto são uns malfeitores. Qual seria a religião de Madalena? Talvez nenhuma. Nunca me havia tratado disso - Monstruosidade. E repeti baixinho, lentamente e sem convicção: - Monstruosidade! Tenho portanto um pouco de religião, embora julgue que, em parte, ela é indispensável para um homem. Mas mulher sem religião é horrível. Comunista, materialista, mulher sem religião é capaz de tudo. Entra a questão da religiosidade, conclui o capítulo 24, quando diz que “Misturei tudo ao materialismo e o comunismo de Madalena. Procurei Madalena e avistei-a derretendo-a e sorrindo para o Nogueira, num vão de janela. Começou a sentir ciúmes e seu primeiro desejo foi agarrar o Padilha pelas orelhas e deitá-lo fora a pontapés, mas o conservou para vingá-lo. Tirou de casa, a bem dizer prendeu na escola onde lá vivia, dormia, recebia alimento e vivia como um peixe fora d’água. Ficou quatro meses sem lhe pagar o salário e quando o viu igual a um cadáver começou a gozação. A brisa que corria trazia arrepios bons a Paulo ao observar São Bernardo, via também Madalena com seus grandes e belos olhos sob a paisagem. Sentiam que se juntavam cautelosamente e trocavam sorrisos e gestos vagos. Porém o ciúme de Paulo Honório progride como uma psicose: “Atormentava-se a ideia de surpreendê-la. Comecei a mexer nas malas, nos livros, abri-lhe a correspondência... Madalena chorou, gritou, teve ataques de nervos...” (p.137). Desconfiava de todos que conhecia e após um tempo foi conversar com Padilha dizendo não precisar mais de seus serviços. Padilha querendo saber o porquê não ser mais útil para seu patrão começa a discordar e lhe diz tudo que faz para Madalena o que deixa Honório ainda mais confuso em suas palavras. A beira da loucura: “Creio que estava malucando... não podia dormir, contava de um a cem até completar mil.... trancava a porta, destrancava... tornava a trancar” (p.151-153). Enquanto Paulo Honório se consumia no seu ciúme, Madalena perdia as forças para suportar a pressão psicológica exercida em função disso. Paulo Honório observou sua mulher escrevendo. E descobriu em frente ao escritório - no chão - uma folha perdida. Tratava-se de uma carta. Ele acreditou que fosse para outro homem e teve ciúmes. No entanto, sua mulher afirmou que o restante da carta estava no escritório e que ele deveria entender seus motivos. Assim, começou uma singela ‘’ despedida’’ – ela estava bastante perturbada. No dia seguinte a essa conversa, Honório encontrou Madalena morta. Ela havia cometido suicídio. Ele seguiu para o escritório, e descobriu que a carta completa era para ele, e se tratava de uma carta de despedida. O mesmo sentiu que havia perdido a oportunidade de ser uma pessoa melhor. Após a trágica morte de Madalena, Dona Glória quis partir - Honório lhe ofereceu dinheiro para viagem. Seu Ribeiro se demitiu, Padilha incorporou-se as tropas revolucionarias e desapareceu subitamente. Nos dias que se seguiram, era possível ouvir muitos fuxicos entre as famílias e vizinhos da cidade. Os amigos e o jornal mostravam o início da revolução. E pela cidade começava a se espalhar o boato de que a fazenda São Bernardo era um ninho de reacionários. Paulo Honório perdeu diversos clientes e os negócios não iam bem. Passados dois anos desde a morte de Madalena, ele se sentia triste, entediado, velho e arrependido pela vida, já que sua história havia sido moldada pelo sistema capitalista. Pensando sobre o que poderia ter feito de diferente. Mas mesmo arrependido de suas próprias atitudes, não mudaria nenhuma de suas ações até então. O juiz Magalhães é afastado do cargo e os limites da fazenda passam a ser contestados oficialmente. Com tudo isso, Paulo Honório se encontrou abandonado por todos. Por fim, em meio a solidão e somente com a companhia de Casimiro Lopes e seu cachorro, Paulo Honório escreve sua narrativa. Amargurado pelo passado, toma consciência da desumanização por que passou. Paulo Honório começou a buscar algum sentido para vida e encerra sua história arrependido e amargurado.
A derrota vem de todos os sentidos: a perda da mulher, a derrota do partido político, o afastamento dos amigos, prejuízos financeiros, e saldo, o desânimo. Resta a Paulo Honório fazer um registro de sua vida.
Sobre o autor:
Graciliano Ramos de Oliveira
Escritor alagoano, nasceu em 27/10/1892 e morreu em 20/3/1953. Um dos expoentes da Geração de 30 do Modernismo, escritor brasileiro do romance "Vidas Secas" sua obra de maior destaque.